O Trabalho Alugado
A muito tempo que não se usa o termo “trabalho alugado”, mas, nos tempos de nossos pais, muito se falavam nas plantações de roça, canaviais e serviços de quem tinha terra.
O chapéu de palha, a camisa desgastada pelo uso, a cuia de farinha e a marmita com carne assada e banana e a cabaça d’água.
E parece que estavam fazendo jus ao ditado: “a cabaça vai ao poço até que um dia tora o pescoço”. Pois bem, aquela turma de rapazes que saíram em jejum de casa, esperava aflitos o intervalo para o almoço.
E o patrão era um senhor bonachão, mas, que tinha tanta pena de gastar o dinheiro que as cédulas novas impressas na casa da moeda, em suas mãos, ficavam o “bagaço” de tanto amassar enquanto contava para pagar seus trabalhadores.
E os serviçais esperavam serem mandados embora, pois, tinham direito “aos tempos” de trabalho, mesmo sem carteira assinada. E conforme o costume, saindo por conta própria isentava o patrão de suas obrigações do “aluguel”.
O velhote gostava de vigiar seus trabalhadores, num dia daqueles, encontrou uma turma como se tirando uma “folguinha”, atiravam pedras no rio para ver quem conseguia maior distância e o velho sabendo da preguiça diante das baixas remunerações e a grande demanda de produção, chamou-os atenção.
— Mas, eu vou dizer — e levantando o chapéu, coçava a cabeça — ah, meninos preguiçosos!
Assim, levantaram-se todos e apoiando as enxadas no chão, escoravam-se nos cabos da ferramenta de trabalho e olhavam para o velhote que continuava dando seu sermão. Mas, esperto o senhor sabia que estavam querendo dar nó e estava numa saia justa.
Foi aí que o velhinho resolveu dar uma última recomendação e acabar com aquela choradeira.
— Vou dizer uma coisa pra vocês — e segurava o chapéu apontando para eles — se quiser trabalhar é pra trabalhar e se não quiser...
Ora, animaram-se que estariam dispensados. E o velho continuou:
— E se não quiser — olhou um a um e apontava novamente com o chapéu — é pra trabalhar.
(Hora, Flávio. 2020. Contos de Costumes e Outras Crônicas).
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