quinta-feira, 1 de abril de 2021

O TRABALHO ALUGADO: Crônicas de Costumes - Sergipanidade.

 


O Trabalho Alugado

A muito tempo que não se usa o termo “trabalho alugado”, mas, nos tempos de nossos pais, muito se falavam nas plantações de roça, canaviais e serviços de quem tinha terra.

O chapéu de palha, a camisa desgastada pelo uso, a cuia de farinha e a marmita com carne assada e banana e a cabaça d’água.

E parece que estavam fazendo jus ao ditado: “a cabaça vai ao poço até que um dia tora o pescoço”. Pois bem, aquela turma de rapazes que saíram em jejum de casa, esperava aflitos o intervalo para o almoço.

E o patrão era um senhor bonachão, mas, que tinha tanta pena de gastar o dinheiro que as cédulas novas impressas na casa da moeda, em suas mãos, ficavam o “bagaço” de tanto amassar enquanto contava para pagar seus trabalhadores.

E os serviçais esperavam serem mandados embora, pois, tinham direito “aos tempos” de trabalho, mesmo sem carteira assinada. E conforme o costume, saindo por conta própria isentava o patrão de suas obrigações do “aluguel”.

O velhote gostava de vigiar seus trabalhadores, num dia daqueles, encontrou uma turma como se tirando uma “folguinha”, atiravam pedras no rio para ver quem conseguia maior distância e o velho sabendo da preguiça diante das baixas remunerações e a grande demanda de produção, chamou-os atenção.

— Mas, eu vou dizer — e levantando o chapéu, coçava a cabeça — ah, meninos preguiçosos!

Assim, levantaram-se todos e apoiando as enxadas no chão, escoravam-se nos cabos da ferramenta de trabalho e olhavam para o velhote que continuava dando seu sermão. Mas, esperto o senhor sabia que estavam querendo dar nó e estava numa saia justa.

Foi aí que o velhinho resolveu dar uma última recomendação e acabar com aquela choradeira.

— Vou dizer uma coisa pra vocês — e segurava o chapéu apontando para eles — se quiser trabalhar é pra trabalhar e se não quiser...

Ora, animaram-se que estariam dispensados. E o velho continuou:

— E se não quiser — olhou um a um e apontava novamente com o chapéu — é pra trabalhar.

                                                (Hora, Flávio. 2020. Contos de Costumes e Outras Crônicas).

Nenhum comentário:

Postar um comentário