Quem assiste aos Festivais de Poesia de Japaratuba, geralmente, encanta-se com a produção cênica e delira com a atuação dos melhores intérpretes do banquete literário. E assim, alguns poetas sentem-se frustrados com o resultado.
Há quem diga que só reclame quem não ficou entre as faixas premiáveis: do 1º ao 5º ou melhor intérprete. Mas, o fato é que o formato do festival tem gerado diversas controvérsias entre a classe poética, principalmente, quando se trata de preferência político-partidária.
Na tentativa de desmistificar essa ideia, foi criado um edital e algumas modificações na forma de avaliar e premiar, mas, que não surgiu o efeito esperado, pois, na duas edições, melhor texto e melhor poesia/apresentação foram as mesmas.
Com isso, não queremos tirar o mérito dos seus vencedores, nem por à prova a soberania do júri. Mas, para os que defendem a linha de pensamento de que não se deve deixar-se levar pela ótica teatral, algo que queremos apresentar como poesia e ver o brilho dela.
O fato é que a poesia, assim como na política eleitoral, está fazendo o papel do eleitor, ou seja, brilha o eleito (teatro) e não o eleitor (poesia).
E dessa vez, o próprio vencedor absoluto (1º lugar, melhor texto e melhor intérprete) resumiu o significado do Festival (ou Concurso?) de Poesias de Japaratuba: Teatro é Poesia! E ai, abre vários leques de opiniões, e, alguns amantes dos festivais e não de recitais acham que essa ideia do grande vencedor em detrimento da melhor poesia é o que enche o ego e satisfaz os seus desejos mais íntimos de glória.
Péssima estrutura e condições de apresentação
Embora muito bem planejado e idealizado pelos representantes da gestão de cultura e pelo Conselho Municipal de Políticas Culturais, nos quesitos edital e o projeto em si, a Prefeitura de Japaratuba deixou muito a desejar em estrutura e em recepção dos artistas que declamaram seus poemas.
Não querendo apontar culpados por alguns fracassos, falhas entre os setores da administração que deveriam trabalhar em conjunto, acabou atrasando o início das apresentações, causando nervosismo e estresse nos primeiros poetas e intérpretes da noite.
Festival de Poesias independente, por que, não?
Se em Japaratuba houvesse uma classe artística (com ênfase na literatura) unida, toda essa celeuma em torno dos festivais estaria resolvida. Porém, o que vemos é que há uma prostração de artistas abatidos pela falta de produção e de incentivo de si mesmos, das gestões públicas e da sociedade como um todo.
Temos sim que produzir uma alternativa que prestigie de fato à poesia dos artistas de Japaratuba e que divulgue diariamente tudo o que é produzido na terra de Arthur Bispo do Rosário e do poeta Garcia Rosa.
Nem no Clube, nem na Praça: Poesia não é evento atrativo
Das duas uma: ou o povo não gosta de poesia ou o formato não é atrativo. Mas, o fato é que o público é escasso na maioria das edições dos festivais de poesia.
O que vemos na plateia é uma pequena porção de amantes da cultura, e, os comissionados ou pessoas que acompanham os agrupamentos da gestão municipal. E assim compõem uma meia dúzia de gatos pingados.
Festival de Poesia virou sessão da Câmara de Vereadores, onde poucos participam, mas, os resultados de lá são vistos como bom ou ruim pela comunidade e exaltam os vencedores conforme divulgam a mídia e o marketing político.
Ódio político como divisor de águas da cultura Japaratubense
O ódio político acentuado no início dos anos 90 vem modificando o modus operandi da cultura em Japaratuba. Muitas vezes, as cartas marcadas é quem são beneficiadas em nome das alianças e da governabilidade.
As festas e manifestações culturais que eram feitas pelo povo, hoje, estão atreladas à gestão pública, sendo esta a única promotora de eventos e subsidiária de recursos financeiros para a manutenção sazonal dos grupos e bandas tradicionais e folclóricas do munícipio. A cultura se aposentou por invalidez e precisa ser sustentada pelo Estado, pois, não consegue andar com suas próprias pernas.
E quem tentar andar com suas próprias pernas, corre o risco de ficar paraplégico, ou no bordão popular: “cortar as pernas”. Infelizmente, é assim que ocorre em nosso município.
Cultura não é prioridade para gestão pública
É preciso aporrinhar, encher o saco, bater na mesma tecla para que o gestor ceda às pressões e dê um pequeno fôlego às manifestações culturais com premiações ou maior publicidade. E não é intriga da oposição, pois, movimentos artísticos estão em atividade, por conta de sonhadores individuais que alimentam seus sonhos e elevam o nome da cidade, sem sequer um olhar da gestão municipal.
2014 não foi um ano de crise, mas, foi palco de um de um evento que mudou para sempre a história da literatura de Japaratuba: a criação de uma editora, quebrando as barreiras da publicação de livros.
Temos a lei 10.753, de 30 de Outubro de 2003, que institui a Política Nacional do Livro, que está sendo ignorada, pois, sequer foi regulamentada em nosso município.
A cultura está anônima. É feita somente para promover os políticos cabeça de chave em eleições. As políticas públicas ainda estão atreladas à vontade do gestor e não à do povo. Mesmo com o Conselho Municipal de Políticas Culturais, a gestão de cultura não consegue cumprir seu papel a contento.
Sabemos que temos pessoas que amam a cultura, mas, que estão atreladas aos interesses dos agrupamentos políticos a que pertencem, ou seja, precisamos de pessoas do povo, para que fortaleçam o controle social e pressionem o poder público a fazer o dever de casa.
O povo japaratubense tem cultura mas quem a domina não tem essa cultura!
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