Sobrevivência ou Submissão: A Armadilha do Emprego Político nas Pequenas Cidades
Interior do Brasil – Em muitas pequenas cidades, o relógio da economia não gira no ritmo do comércio ou da indústria, mas sim ao compasso da caneta do prefeito. Sem políticas públicas efetivas de geração de emprego e renda, e com um setor comercial asfixiado pela falta de incentivo, a população se vê diante de um dilema cruel: ou se submete ao "beija-mão" nos gabinetes políticos ou faz as malas em busca de oportunidades fora.
A Prefeitura como "Única Empresa"
A realidade é nua e crua: em municípios com pouca diversificação econômica, a Prefeitura se torna o maior – e às vezes único – empregador formal. O que deveria ser um serviço público técnico transforma-se em um balcão de negócios eleitorais.
O cidadão, refém da falta de opções, acaba sendo forçado a "pedir" emprego ao político. Cria-se, assim, uma massa de trabalhadores contratados precariamente, cuja estabilidade dura apenas até a próxima eleição ou até o próximo humor do gestor.
Dentro das repartições, o cenário é de desvalorização. Enquanto servidores dedicados carregam o piano da administração, uma casta de apadrinhados – muitos dos quais apenas batem o ponto (quando batem) – recebe salários e gratificações em troca de fidelidade canina ao grupo no poder. Essa distorção desmotiva quem realmente trabalha e onera os cofres públicos sem retorno em qualidade de serviço para a sociedade.
O Clientelismo que Elege e Escraviza
Supõe-se, não sem razão, que a reeleição de muitos prefeitos esteja alicerçada nessa "folha de pagamento paralela". Ao inchar a máquina pública com contratos temporários, o gestor não apenas "ajuda" famílias aliadas, mas garante um exército de cabos eleitorais.
Essa prática nefasta é a principal barreira para a realização de concursos públicos. O concurso liberta o cidadão da amarra política; o contrato temporário o mantém de joelhos. Para o político tradicional, o cidadão livre é um perigo. Além de, a maioria das prefeituras, não pagarem todos os direitos trabalhistas, nem o piso da categoria.
O "Capitão do Mato" do Século 21 e a Guerra de Pobres
Em meio à escassez, surge uma figura socialmente trágica: o "capitão do mato" moderno. São pessoas da própria classe trabalhadora que, por migalhas de poder ou pequenas vantagens financeiras, entregam seus companheiros e fiscalizam a fidelidade política alheia em nome do "patrão".
Essa dinâmica é alimentada por condições de trabalho indignas e pela disputa desesperada por sobrevivência. O sistema é desenhado para colocar pobre contra pobre, enquanto a elite política se mantém intocada.
A Raiz do Problema: Educação e Desinformação
Analistas apontam que esse ciclo de dependência não é acidental. Ele é mantido pelos precários investimentos em educação crítica e potencializado, nos últimos anos, pela ofensiva antiintelectualista.
A disseminação de notícias falsas e a retórica extremista, muitas vezes associada à extrema direita, criam uma cortina de fumaça. O trabalhador é induzido a votar no seu próprio explorador, acreditando em pautas morais ou no medo de "comunismos" imaginários, enquanto a política real – aquela que tira o pão de sua mesa e o emprego de seu filho – é gerida para manter o status quo.
Sem uma política econômica que fortaleça o pequeno comércio e sem uma educação que liberte a mente, as pequenas cidades continuarão sendo reféns de um feudalismo moderno, onde a saúde financeira do município e a dignidade de seu povo dependem, exclusivamente, da vontade do "dono" da cidade.

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