sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

O PRAZER COMO TIRANO: "Faça-me feliz" é uma falácia?

 

O PRAZER COMO TIRANO: Faça-me feliz é uma falácia?

Há quem diga que sim. Porque prazer e felicidade não são sinônimos. Existe uma promessa silenciosa que orienta boa parte das nossas escolhas: se eu alcançar isso, serei feliz. Esse “isso” muda de forma — um relacionamento, uma conquista profissional, um objeto desejado, uma experiência intensa —, mas a lógica permanece a mesma. A felicidade é projetada para fora, colocada nas mãos de algo ou alguém. É aqui que o prazer assume o trono. E, como todo tirano, ele governa por instantes de euforia e longos períodos de vazio.

Prazer e felicidade não são sinônimos. O prazer é imediato, externo e reativo. Ele nasce do estímulo e morre com ele. A felicidade, por sua vez, é serena, interna e construída. Não depende do pico, mas da base. Enquanto o prazer grita “agora!”, a felicidade sussurra “permaneça”.

O problema não está em sentir prazer. Ele faz parte da condição humana. O erro começa quando o prazer é elevado à condição de finalidade da vida. Quando isso acontece, passamos a organizar nossas decisões não pelo que nos torna íntegros, mas pelo que nos excita, nos distrai ou nos anestesia. O prazer, então, deixa de ser convidado e se torna senhor.

A armadilha é sutil. O prazer entrega recompensas rápidas e cobra juros altos. Cada pico exige outro maior. Cada satisfação momentânea amplia o intervalo de insatisfação que a sucede. É um mecanismo de dependência: quanto mais se busca, menos se encontra. A sensação de vazio não surge por falta de prazer, mas por excesso dele — um excesso sem raízes.

Paixões intensas, consumo compulsivo, validação constante, comida em excesso, trabalho como fuga, entretenimento sem pausa. Todas essas formas têm algo em comum: prometem preencher um espaço interno que não se deixa ocupar por estímulos externos. O prazer atua como um paliativo elegante. Alivia, mas não cura. Distrai, mas não sustenta.

A felicidade, ao contrário, não se oferece como espetáculo. Ela se constrói na coerência entre valores e ações, na aceitação dos limites, no compromisso com o que faz sentido mesmo quando não é confortável. Por isso, ela não seduz as massas. Ela exige maturidade.

Buscar prazer não é errado. Submeter a vida a ele é. Quando o prazer governa, a pessoa se torna refém do próximo estímulo, da próxima dose, da próxima aprovação. Vive-se em função de algo que nunca se fixa. O resultado é previsível: ansiedade quando falta, frustração quando passa, vazio quando acaba.

A felicidade não elimina a dor, mas dá significado a ela. O prazer tenta eliminar qualquer desconforto, e ao fazer isso, elimina também a profundidade. Uma vida guiada apenas pelo prazer tende a ser rasa — barulhenta na superfície, silenciosa no sentido.

É nesse ponto que a pergunta essencial surge: onde você tem buscado seu prazer? E, mais importante ainda: o que você espera que ele resolva?

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