Josueh Barreto é um artista sem igual, além de
cantor e compositor é escritor, até como modelo já fez ensaios de pirar as
garotas da sua geração. Em 2015, é um dos formandos em Ciências Contábeis pela
Unit, o que demonstra a genialidade e maestria desse cara. Hoje, a JHS
Publicações entrevistou o futuro autor do seu mais novo lançamento para 2016.
Veja:
1. JHS Publicações - Primeiro, conte-nos de onde você é, como foi sua infância
e como descobriu o gosto pela arte, nesse caso a literatura.
JB – Eu nasci em um pequeno povoado chamado Genipapo,
localizado no município de Lagarto, distante 80 quilômetros de Aracaju. Tive uma
infância difícil. Pais analfabetos e ainda por cima, separados. Estes tiravam o
sustento da própria terra ou até mesmo do trabalho braçal em terras alheias.
Porém, mesmo com toda a dificuldade, foi possível criar, aos trancos e
barrancos, a prole de 7 filhos do qual eu sou o de número 5 na ordem
cronológica. Descobri ainda na infância a oportunidade de crescer por meio dos
estudos. Porém como minha mãe sempre estava de mudança, eu não conseguia dar
continuidade as atividades estudantis, e sempre perdia o ano. Porém, aos quinze
anos, decidi que não mais acompanharia a minha mãe e fui procurar outros meios
para estudar na capital, onde morei na casa de conhecidos e desconhecidos, a fim
de concluir meus estudos. Por fim, conclui. E aos dezenove, quase vinte,
finalizei meu ensino médio (uma das minhas maiores conquistas). Juntamente com
os estudos a leitura vinha sempre em paralelo. Sempre tive interesse em ouvir
histórias. E não há forma mais prazerosa de conhecer uma história senão lendo.
Cada livro era uma viagem. A leitura para mim é um mundo paralelo, que, às
vezes, tem mais sentido do que o mundo real.
2. JHS Publicações - Atualmente, você é formando em Contabilidade, há quem diga
que é divergente essa área para artistas, o que você diz a
respeito?
JB – Não há divergências nem disparidades na vida. Tudo vale
como experiência. Nada é inútil. Uma hora ou outra precisarei dos meus dons
contábeis adquiridos na academia. Até um artista precisa de um contador. Eu o
sou. As ciências contábeis me guiaram para a arte da literatura de uma forma que
talvez a literatura não conseguisse fazer. A ausência a fez presente. O
importante é manter o foco na vida. E procurar fazer da vida o que melhor
considerar. Dos momentos bons trazemos lembranças, dos ruins, experiências, isto
é, NUNCA perdemos NADA. A formação acadêmica não me faz tão bom profissional
como a falta de estudo me faz artista.
3. JHS Publicações - Qual a
sua visão sobre a cultura em geral e a forma como sua geração encara a leitura e
os livros?
JB – Eu vejo a cultura, muitas vezes, como um ato
separatista. Embora lutemos diariamente contra o preconceito, o que vemos é um
amante de uma determinada cultura menosprezar a outra. Seja um estilo musical,
ou até mesmo uma opção religiosa (candomblé). Acredito que aquele que diz amar a
arte e a cultura, deve, antes, despir-se de todo invólucro de rotulagens sobre
essa ou aquela cultura. A manifestação cultural é um ato social milenar, além de
ser um direito de todo cidadão. Mas como todas as outras práticas, o respeito de
vir antes de tudo. Quanto à relação dos jovens com a leitura, eles podem até
‘encarar’ o livro, contudo, não ‘enfrentam’ a leitura. E por isso, deixamos de
construir mentes pensantes. No Brasil não criamos a cultura e ler por prazer. Os
jovens acham um ‘saco’ ler. E com isso deixa de conhecer seu passado e enterram
seus futuros. Passam por cima das cinzas de seus ancestrais e não deixam nada de
produtivo para a sociedade e para os seus descendentes quando se vão. Uma coisa
digo: Quem lê é mais feliz.
4. JHS Publicações - Qual a
sua aptidão na escrita (romance poesia, textos jornalísticos...)? E por
quê?
JB – Considero-me romancista. Escrevo estórias e histórias.
Tenho a sensibilidade de observar e transmitir um enredo. Gosto da história
contada passo a passo. Surpreendo a mim mesmo enquanto escrevo e quero passar
isso para o meu leitor. Adoro comover, emocionar e surpreender.
5. JHS Publicações - Existe
alguma técnica de escrita que você usa para criar seus textos?
JB – Não chamaria de técnica, mas busco nas artes cênicas
algumas inspirações. Lanço mão do teatro do absurdo para tornar a leitura
atraente e contagiante. Procuro descrever o dia a dia de forma que possa ser
compreendido. Escrevo de forma simples, mas tento despertar no leitor uma
sensação de comicidade dentro da tragédia. Sirvo-me tanto da experiência teatral
prática quanto da teórica.
6. JHS Publicações - Você se
inspira em algum livro ou autor? Quais técnicas de estilo você considera
importante para escrever na atualidade?
JB – Busco sim inspirações em grandes escritores,
sejam eles passados ou presentes, como por exemplo, o Nelson Rodrigues, Rui
Barbosa, Ariano Suassuna, Machado de Assis, Paulo Coelho, entre outros. Acredito
que para a literatura não existe passado presente nem futuro. A leitura segue a
linguagem e linguagem está em ininterrupto movimento. A leitura de dois séculos
atrás era atual à época, assim como é hoje e no futuro será, portanto o que vai
mudar é apenas o tema que será abordado, seja um ficção, seja um caso verídico,
ou um documentário.
7. JHS Publicações - Atualmente, não se tem uma escola ou movimento literário
que suceda o Modernismo, sendo toda e qualquer manifestação artística chamada de
Pós-Modernismo ou Literatura Contemporânea. Em sua opinião, quais as tendências
da arte no momento atual?
JB – Não vejo mal nenhum naqueles que adotam
determinado movimento ou seguem determinada escola, isso para mim é só um
divisor de estilo. Eu acredito e defendo um único movimento, o literário. Sem
pensar em Modernismo, Pós-moderniso ou Pós-pós-pós-modernismo (risos).
8. JHS Publicações - Que
escritor contemporâneo você considera importante como difusor das tendências
literárias atuais?
JB – Eu citaria Nelson Rodrigues, mas isso poderia parecer
tendencioso, já que tenho um pezinho no teatro (risos) e talvez não parecesse
tão contemporâneo assim. Quanto a difusão de tendências, buscarei apenas
parâmetros que partem do meu ponto de vista. Logo oficialmente, cito Paulo
Coelho, pois para mim, é um autor que torna o complexo simples e vice-versa.
Suas obras fascinam. Sua forma de conduzir e desenrolar a trama faz com que o
leitor leia uma mesma obra duas vezes, ou mais, como se estivesse lendo pela
primeira vez. Fascinante.
9. JHS Publicações - Você
considera o Brasil um país com acesso à leitura? O que você analisa sobre o
incentivo à leitura e à publicação de livros?
JB – Serei sucinto, porém sincero. Quanto ao acesso à
leitura, não há o que reclamar. Há bibliotecas públicas, feiras de livros,
bibliotecas nas escolas públicas com acervos riquíssimos, bibliotrocas (locais
onde levamos um livro e trocamos por um do nosso gosto) etc. O que falta é o
INTERESSE em ler. Com relação ao mercado de publicação, ainda não tenho muito
conhecimento empírico. Pois estou lançando meu primeiro livro agora. Em breve,
outros virão e esse pergunta pode ganhar mais conteúdo...
10. JHS Publicações - Você
acha que pode chegar a viver de vender livros? Como você imagina ser o caminho a
percorrer até chegar a esse objetivo?
JB – Viver da venda de livro pode até ser interessante,
porém não havia pensado nisso. Na verdade, sou alguém que busca viver de arte. E
escrever para mim é uma delas. Ganhar dinheiro. Preciso e quero. Mas em primeiro
momento não é nisso que penso. Penso em fazer minha obra ser lida, conhecida e
quiçá vivida pelas pessoas. Quero que leiam e deem seus pontos de vista pessoal
sobre o trabalho. E acredito que em qualquer profissão, se fizermos algo
pensando no retorno financeiro talvez nos frustremos n vezes, porém se nos
dedicarmos a fazer nosso trabalho com excelência, amor e dedicação, o retorno
financeiro será garantido e quase imperceptível.
11. JHS Publicações - Em
Sergipe você consegue prever algum futuro promissor para os novos escritores?
Quais as chances e o que fazer para alcançar o sucesso em um estado que tem
pouco a oferecer em incentivos culturais?
JB – Eu creio que quando nós queremos realizar algum sonho e
as oportunidades são poucas ou quase nenhuma em determinado local, nesse caso
Sergipe, nós detentores deste sonho, devemos fazer acontecer, nem que pare isso
tenhamos que abandonar nosso berço. Sergipe é a menor Unidade Federativa do
Brasil, porém não é somente a sua extensão territorial que é limitada. As
chances e oportunidades, não só para os escritores, como também para outras
vertentes artísticas e culturais, são fracas quando não, inexistentes. Querendo
ou não, precisamos recorrer a algum recurso midiático para a divulgação do nosso
trabalho, e isso, muitas vezes, faz com que tenhamos que bater asas e voar para
o local mais propício ao sucesso do nosso empreendimento. Não podemos nos
limitar nossos sonhos. Penso em crescer do centro para as bordas, pois é muito
mais difícil ter um trabalho reconhecido tentando o movimento contrário, assim
penso eu.
12. JHS Publicações - Para
finalizar, o que você diz do livro Cinquenta Tons de Cinza, que começou pela
auto publicação e conquistou o público chegando até a produzir filmes. Você
considera uma obra de qualidade literária ou apenas um livro de uma geração em
busca de entretenimento?
JB – Recorrendo ao apogeu da minha sinceridade, não tive
acesso à obra literária. Tomei conhecimento do trabalho apenas por meio dos
‘críticos’ e amantes da cinematografia. Não sabia que a obra tinha ganhado
espaço por meio da auto publicação. Para mim, independente ser uma obra feita
com a única finalidade de entreter, vale salientar que alguém criou e dedicou
tempo e esforço para trazê-la ao conhecimento do público. Independente de gostar
ou não, aprecio toda e qualquer obra. Creio que a qualidade daquilo que
produzimos vem do respeito que queremos obter do leitor. Apenas ele avaliará a
qualidade. Devemos respeitá-lo. Pode ser uma obra supérflua, ou não. Seu efeito
pode ser passageiro, ou não. Cada história traz uma dose de mistério. É possível
que pela falta de sensibilidade não consigamos fazer o leitor desvendar esse
mistério e leia apenas ‘palavras’.
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