quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

100 ANOS DE LUIZ GONZAGA - SANFONEIRO E CANTADOR

BIOGRAFIA


Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu na fazenda Caiçara, no sopé da Serra de Araripe, Estado de Pernambuco, divisa com o Ceará e Piauí – a 70 km de Crato e a 693 do Recife – em 13 de dezembro de 1912, dia dedicado a Santa Luzia, protetora dos olhos. Filho de Januário José dos Santos (mestre sanfoneiro e consertador de instrumentos) e de Dona Ana Batista de Jesus (a popular e bela Santana dos olhos verdes). Aos sete anos, muda-se, com a família, para o centro urbano de Exu, passando a acompanhar o pai nas festas, como sanfoneiro auxiliar. Ressalte-se que, além de lavrador, Januário era músico respeitado em toda a redondeza. Assim, ao lado do pai, com apenas doze anos, Gonzaga já animava sambas, em vários terreiros do sertão do Araripe.
Com essa mesma idade (doze anos), contando com o auxílio do Coronel Manoel Alves de Alencar, compra a sua primeira sanfona de oito baixos (por cento e vinte mil réis – a essa altura já está ganhando tanto ou mais que o genitor), para tocar nos bailes, em Granito, Baixio dos Doidos, Rancharia e Cajazeira do Faria. Em 1930, aos dezessete anos, apaixona-se por Nazaré, filha do Coronel Raimundo Delgado – a quem, no auge do entusiasmo adolescente, ameaça de morte, pelo que leva uma surra da mãe, Santana, após o que, revoltado, decide fugir de casa, indo a pé, até o Crato, onde vende a sanfoninha, por oitenta mil réis. Ato contínuo, viaja para Fortaleza e se alista no Exército, como recruta do 23º Batalhão de Caçadores, em plena Revolução de 30. Nessa condição, desloca-se por todo o País, com sua tropa, na qual fica conhecido como Bico de Aço, por ser exímio corneteiro. De passagem por Juiz de Fora, conhece Domingos Ambrósio, que lhe ensina alguns truques na sanfona. Em 1939, compra uma nova sanfona, em São Paulo. Dá baixa do Exército, no Rio de Janeiro, após dez anos de farda e, ainda como soldado, é levado para a zona do meretrício local, conhecida como O Mangue, para substituir o guitarrista português Xavier Pinheiro, que vem a se tornar, para ele, uma espécie de protetor e, mais tarde, o pai adotivo de Gonzaguinha (Luís Gonzaga Jr).
Adaptando-se ao ambiente local, passa, então, a se apresentar em várias casas noturnas, cabarés, dancings e gafieiras. No rádio, faz suas primeiras tentativas, concorrendo, como calouro, nos programas de Silvino Neto e Ari Barroso. Em 1940, numa das casas noturnas do Mangue (Rua Júlio do Carmo, esquina de Carmo Neto), é desafiado, por um grupo de estudantes nordestinos (entre estes o futuro Ministro da Justiça, Armando Falcão), a tocar algo lá da terra. Depois de treinar em casa, durante uma semana, Gonzaga apresenta-se aos mesmos universitários, tocando, dentre outras coisas, Pé de Serra e Vira e Mexe, sendo aplaudido, não só pelos rapazes, como por todos da Casa.
Volta, então, à Rádio Nacional, ao programa de Ari Barroso, conquistando a nota máxima e sendo, definitivamente, contratado. Em seguida, faz sua primeira gravação, acompanhado pelo grupo de Genésio Arruda.
Em 1941, grava seu primeiro disco, de 78 RPM (Gravadora RCA), contendo: Véspera de São João (mazurca); Numa Serenata e Saudades de São João Del Rei (valsas); Vira e Mexe (chamego). Em 1943, vem a conhecer o sanfoneiro catarinense Pedro Raimundo, que estréia na Rádio Nacional, com roupas de gaúcho. Nele inspirando-se, passa a apresentar-se vestido de nordestino e a cantar com sua própria voz. Dança Mariquinha (parceria com Miguel Lima) foi o seu disco de estréia. Em 1945, nasce o seu filho, Luiz Gonzaga do Nascimento Jr, o inesquecível cantor Gonzaguinha.
Com o sucesso do seu disco de estréia, procura nordestinizar, mais autenticamente, as suas composições. É então que faz nova parceria, desta feita com o advogado cearense Humberto Cavalcante Teixeira, com quem compõe dezenove músicas, que se tornariam verdadeiros clássicos nordestinos (em sua maioria).
Em 1946, começa a ser reconhecido nacionalmente.
Com os Quatro Ases e Um Coringa, grava Baião de Teixeira e Gonzaga. Entusiasmado com o sucesso, decide voltar a Exu, onde se reencontra com os pais – Januário e Santana. Dessa reunião, nasce a célebre música Respeita Januário. Em 1947, compõe, com o parceiro/advogado (dentre outras), Asa Branca, inspirada na lembrança de uma das músicas cantaroladas pelo pai. A música vai parar em Hollywood, cantada no filme Romance Carioca (Nancy Goes to Rio), por Carmem Miranda. Em 1948, casa-se com a professora pernambucana Helena Cavalcante. Em 1949, estabelece nova parceria, com o médico pernambucano José de Souza Dantas Filho, em 43 músicas. Em 1950, depois de uma apresentação em São Paulo, é aclamado, pelo público, o Rei do Baião. Em 1951, assina novo contrato com a RCA para viajar por todo o Brasil. Em 1953, compõe, com Zé Dantas, a pungente Vozes da Seca, marcando um período de grande seca no Nordeste. Nesse mesmo ano, surge Vida de Viajante (parceria com Hervê Cordovil).
Em 1954, faz grande sucesso com suas músicas de ritmos urbanos e agrestes, ao lado de vários cantores, como Jackson do Pandeiro, os irmãos Moraes e Valdo. Durante essa temporada, cantando em uma feira de Olinda, conhece Dominguinhos – marco indelével na sua vida.
Em 1962, morre o poeta, médico e folclorista Zé Dantas, seu grande parceiro. Começa, pois, uma nova fase para o cantador que, a partir de 1965, vem a influenciar os jovens do movimento conhecido como Tropicália.
Em 1971, grava músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinan, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Nonato Buzar, Fagner… Apresenta-se no Festival de Guarapari e faz sucesso entre os hippies de então.
Em 1972, é a vez de apresentar-se no Teatro Tereza Rachel, sob a direção de Jorge Salomão e Capinan. Em 1973, troca de gravadora, por um breve período. Em 1976, o Projeto Minerva dedica um especial à sua obra. Em 1979, morre seu parceiro, o compositor Humberto Teixeira. Em 1980, em Fortaleza, canta para o Papa João Paulo II, recebendo, deste, um obrigado cantador, momento mais emocionante da vida do sanfoneiro.
Em 1981, canta Luar do Sertão, de Catulo da Paixão Cearense, visita o Presidente em exercício, Aureliano Chaves, pedindo-lhe que intervenha em Exu, no sentido de dissolver as rixas entre as famílias Alencar, Saraiva e Sampaio, o que de fato acontece, depois de 15 dias. E toda a cidade vê, exultante, cair por terra uma rivalidade que já durava  décadas.
Em 1982, viaja para a França, apresentando-se em Paris, no teatro Bolbinot, a convite da cantora Nazaré Pereira. Nesse mesmo período, a RCA relança, de uma só vez, 35 LPs de sua obra, então elogiada por toda a crítica especializada. Em 1984, recebe a homenagem máxima do MPB SHELL (em 1981, recebera os dois únicos discos de ouro de sua carreira). Em 1985, recebe o Nipper de Ouro – prêmio que, ressalte-se, além de Gonzaga, só o recebera o cantor Nelson Gonçalves.
Em 1986, de volta à França, canta no Halle de La Villete, ao lado de Fafá de Belém, Alceu Valença, Moraes Moreira e Armandinho Macedo, entre outros. Em 1988, a RCA lança 50 Anos de Chão, cobrindo toda a carreira do Rei do Baião.
Em 1989, no dia 6 de junho, Luiz Gonzaga do Nascimento sobe, pela última vez, num palco, com o auxílio de uma cadeira de rodas, no Teatro Guararapes, do Centro de Convenções do Recife, ao lado de Gonzaguinha, Dominguinhos, Alceu Valença e outros amigos e parceiros, ocasião em que faz um pequeno discurso – “Quero ser lembrado como sanfoneiro que amou e cantou muito o seu povo, o sertão, as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor” (MÁXIMO, 1998, p.21).
Morre de osteoporose, no dia 2 de agosto de 1989, às cinco horas e quinze minutos, no Hospital Santa Joana, no Recife, onde dera entrada há quarenta e dois dias. Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa e o Governo de Pernambuco decretou luto oficial por três dias. Hoje, seu corpo descansa no mausoléu da família, no Parque Asa Branca, em Exu – Pernambuco.


POEMA EM HOMENAGEM AO REI DO BAIÃO

DE PAI PARA FILHO: Desde 1912...
                                                         F. J. Hora
Numa sexta-feira treze,
Vejam só que ironia
Exatamente naquele dia
Pernambuco foi premiado,
Na divisa do estado
No sertão, céu lindo e azul,
Na fazenda Caiçara
No sopé da Serra do Araripe
No município de Exu.

“Nasceu, e é menino macho”
Vejam os documentos dele:
Luiz por ser de Santa Luzia
Gonzaga porque o padre disse
E Nascimento por Jesus Cristo
Esse era seu nome de pia!

Januário, pai de nove irmãos
Tocando e consertando
Depois da roça, o acordeão,
“Oito baixos” respeitado
Em festa tradicional.
Luiz, aos oito de idade
Na falta do “principal”
Tocou e cantou a noite inteira
Sendo essa a primeira
De uma missão especial.

A convites de amigos do pai
Animou festas e sambas...
Luiz de Januário, “Lula”,
Luiz Gonzaga, antes dos dezesseis,
Foi se tornando o melhor
Da sua redondeza
Cana Brava, Viração, Rancharia, Bodocó...!

Em vinte e nove, já escoteiro
O “neguinho afiotado”
Não era mais menino
Viu-se já apaixonado
Por Nazarena, da região
Filha do Coronel Deolindo...

“Tocador de meia-tigela”
Em reprovação disse o pai dela
E Santana, mãe de Luiz, por desgosto
Deu-lhe uma surra e, no outro dia
Ele foge para Crato
Sem dar notícia à família.

Dezoito anos incompletos
Entra nas forças da Revolução
O soldado “Gonzaga”, corneteiro
Ganhou fama no Exército Brasileiro
E assim seguiu seu passo
Em missão para Belém e outros estados
Com o apelido de “Bico de aço”.

Nove anos depois, por aventura
Dá baixa no Exército
E em São Paulo a sanfona branca
Dá início à sua carreira
E na beira do caz, dos estrangeiros
Inspirado no Rio de Janeiro
Foi um calouro de primeira.

Em 1946, explodiu sua carreira
Em disparada com Humberto Teixeira
Domingos Ambrósio e outros parceiros
Relembrando seu pé de serra
E cheio de cartaz voltou à sua terra
Num reencontro emocionado
Tocou baião, xote e xaxado
E sua música “Dança Mariquinha”;
Registrou também o filho de Odaléia
Seu eterno varão Gonzaguinha.

Já no auge do reinado
No Grande Oriente do Brasil
Foi Paranapuan, da acácia amarela
Flor linda e tão bela
Símbolo da Grande Iniciação
E é por isso que até hoje
Ainda é Rei do Baião.

E assim, de pai para filho
Com a música veio a união
E a fortuna de sua realeza
Que ao destino não engana,
Foi no Hospital Santa Joana
Que debilitado, mas devoto
Com pneumonia e fraco dos ossos
Luiz disse adeus...!

Um adeus forte e cantado
Como um aboio saudoso
Lula, Luiz Gonzaga, Gonzagão
Ser artista do Nordeste foi seu sonho
Desde 1912 inaugurado
Mais do que um nordestino, coroado
Luiz, Rei do Sertão!

Ler mais em: POEMAS ORIGINAIS

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