sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

JOSUEH BARRETO: Um novo olhar literário sergipano

 








Josueh Barreto é um artista sem igual, além de cantor e compositor é escritor, até como modelo já fez ensaios de pirar as garotas da sua geração. Em 2015, é um dos formandos em Ciências Contábeis pela Unit, o que demonstra a genialidade e maestria desse cara. Hoje, a JHS Publicações entrevistou o futuro autor do seu mais novo lançamento para 2016. Veja:

1. JHS Publicações - Primeiro, conte-nos de onde você é, como foi sua infância e como descobriu o gosto pela arte, nesse caso a literatura.
 
JB – Eu nasci em um pequeno povoado chamado Genipapo, localizado no município de Lagarto, distante 80 quilômetros de Aracaju. Tive uma infância difícil. Pais analfabetos e ainda por cima, separados. Estes tiravam o sustento da própria terra ou até mesmo do trabalho braçal em terras alheias. Porém, mesmo com toda a dificuldade, foi possível criar, aos trancos e barrancos, a prole de 7 filhos do qual eu sou o de número 5 na ordem cronológica. Descobri ainda na infância a oportunidade de crescer por meio dos estudos. Porém como minha mãe sempre estava de mudança, eu não conseguia dar continuidade as atividades estudantis, e sempre perdia o ano. Porém, aos quinze anos, decidi que não mais acompanharia a minha mãe e fui procurar outros meios para estudar na capital, onde morei na casa de conhecidos e desconhecidos, a fim de concluir meus estudos. Por fim, conclui. E aos dezenove, quase vinte, finalizei meu ensino médio (uma das minhas maiores conquistas). Juntamente com os estudos a leitura vinha sempre em paralelo. Sempre tive interesse em ouvir histórias. E não há forma mais prazerosa de conhecer uma história senão lendo. Cada livro era uma viagem. A leitura para mim é um mundo paralelo, que, às vezes, tem mais sentido do que o mundo real. 
 
2. JHS Publicações - Atualmente, você é formando em Contabilidade, há quem diga que é divergente essa área para artistas, o que você diz a respeito?
 
JB – Não há divergências nem disparidades na vida. Tudo vale como experiência. Nada é inútil. Uma hora ou outra precisarei dos meus dons contábeis adquiridos na academia. Até um artista precisa de um contador. Eu o sou. As ciências contábeis me guiaram para a arte da literatura de uma forma que talvez a literatura não conseguisse fazer. A ausência a fez presente. O importante é manter o foco na vida. E procurar fazer da vida o que melhor considerar. Dos momentos bons trazemos lembranças, dos ruins, experiências, isto é, NUNCA perdemos NADA. A formação acadêmica não me faz tão bom profissional como a falta de estudo me faz artista. 
 
3. JHS Publicações - Qual a sua visão sobre a cultura em geral e a forma como sua geração encara a leitura e os livros? 
 
JB – Eu vejo a cultura, muitas vezes, como um ato separatista. Embora lutemos diariamente contra o preconceito, o que vemos é um amante de uma determinada cultura menosprezar a outra. Seja um estilo musical, ou até mesmo uma opção religiosa (candomblé). Acredito que aquele que diz amar a arte e a cultura, deve, antes, despir-se de todo invólucro de rotulagens sobre essa ou aquela cultura. A manifestação cultural é um ato social milenar, além de ser um direito de todo cidadão. Mas como todas as outras práticas, o respeito de vir antes de tudo. Quanto à relação dos jovens com a leitura, eles podem até ‘encarar’ o livro, contudo, não ‘enfrentam’ a leitura. E por isso, deixamos de construir mentes pensantes. No Brasil não criamos a cultura e ler por prazer. Os jovens acham um ‘saco’ ler. E com isso deixa de conhecer seu passado e enterram seus futuros. Passam por cima das cinzas de seus ancestrais e não deixam nada de produtivo para a sociedade e para os seus descendentes quando se vão. Uma coisa digo: Quem lê é mais feliz. 
 
4. JHS Publicações - Qual a sua aptidão na escrita (romance poesia, textos jornalísticos...)? E por quê?
 
JB – Considero-me romancista. Escrevo estórias e histórias. Tenho a sensibilidade de observar e transmitir um enredo. Gosto da história contada passo a passo. Surpreendo a mim mesmo enquanto escrevo e quero passar isso para o meu leitor. Adoro comover, emocionar e surpreender. 
 
5. JHS Publicações - Existe alguma técnica de escrita que você usa para criar seus textos?
 
JB – Não chamaria de técnica, mas busco nas artes cênicas algumas inspirações. Lanço mão do teatro do absurdo para tornar a leitura atraente e contagiante. Procuro descrever o dia a dia de forma que possa ser compreendido. Escrevo de forma simples, mas tento despertar no leitor uma sensação de comicidade dentro da tragédia. Sirvo-me tanto da experiência teatral prática quanto da teórica.
 
6. JHS Publicações - Você se inspira em algum livro ou autor? Quais técnicas de estilo você considera importante para escrever na atualidade?
 
JB Busco sim inspirações em grandes escritores, sejam eles passados ou presentes, como por exemplo, o Nelson Rodrigues, Rui Barbosa, Ariano Suassuna, Machado de Assis, Paulo Coelho, entre outros. Acredito que para a literatura não existe passado presente nem futuro. A leitura segue a linguagem e linguagem está em ininterrupto movimento. A leitura de dois séculos atrás era atual à época, assim como é hoje e no futuro será, portanto o que vai mudar é apenas o tema que será abordado, seja um ficção, seja um caso verídico, ou um documentário. 
 
7. JHS Publicações - Atualmente, não se tem uma escola ou movimento literário que suceda o Modernismo, sendo toda e qualquer manifestação artística chamada de Pós-Modernismo ou Literatura Contemporânea. Em sua opinião, quais as tendências da arte no momento atual?
 
JB Não vejo mal nenhum naqueles que adotam determinado movimento ou seguem determinada escola, isso para mim é só um divisor de estilo. Eu acredito e defendo um único movimento, o literário. Sem pensar em Modernismo, Pós-moderniso ou Pós-pós-pós-modernismo (risos).
 
8. JHS Publicações - Que escritor contemporâneo você considera importante como difusor das tendências literárias atuais?
 
JB – Eu citaria Nelson Rodrigues, mas isso poderia parecer tendencioso, já que tenho um pezinho no teatro (risos) e talvez não parecesse tão contemporâneo assim. Quanto a difusão de tendências, buscarei apenas parâmetros que partem do meu ponto de vista. Logo oficialmente, cito Paulo Coelho, pois para mim, é um autor que torna o complexo simples e vice-versa. Suas obras fascinam. Sua forma de conduzir e desenrolar a trama faz com que o leitor leia uma mesma obra duas vezes, ou mais, como se estivesse lendo pela primeira vez. Fascinante. 
 
9. JHS Publicações - Você considera o Brasil um país com acesso à leitura? O que você analisa sobre o incentivo à leitura e à publicação de livros?
 
JB – Serei sucinto, porém sincero. Quanto ao acesso à leitura, não há o que reclamar. Há bibliotecas públicas, feiras de livros, bibliotecas nas escolas públicas com acervos riquíssimos, bibliotrocas (locais onde levamos um livro e trocamos por um do nosso gosto) etc. O que falta é o INTERESSE em ler. Com relação ao mercado de publicação, ainda não tenho muito conhecimento empírico. Pois estou lançando meu primeiro livro agora. Em breve, outros virão e esse pergunta pode ganhar mais conteúdo...
 
10. JHS Publicações - Você acha que pode chegar a viver de vender livros? Como você imagina ser o caminho a percorrer até chegar a esse objetivo?
 
JB – Viver da venda de livro pode até ser interessante, porém não havia pensado nisso. Na verdade, sou alguém que busca viver de arte. E escrever para mim é uma delas. Ganhar dinheiro. Preciso e quero. Mas em primeiro momento não é nisso que penso. Penso em fazer minha obra ser lida, conhecida e quiçá vivida pelas pessoas. Quero que leiam e deem seus pontos de vista pessoal sobre o trabalho. E acredito que em qualquer profissão, se fizermos algo pensando no retorno financeiro talvez nos frustremos n vezes, porém se nos dedicarmos a fazer nosso trabalho com excelência, amor e dedicação, o retorno financeiro será garantido e quase imperceptível. 
 
11. JHS Publicações - Em Sergipe você consegue prever algum futuro promissor para os novos escritores? Quais as chances e o que fazer para alcançar o sucesso em um estado que tem pouco a oferecer em incentivos culturais?
 
JB – Eu creio que quando nós queremos realizar algum sonho e as oportunidades são poucas ou quase nenhuma em determinado local, nesse caso Sergipe, nós detentores deste sonho, devemos fazer acontecer, nem que pare isso tenhamos que abandonar nosso berço. Sergipe é a menor Unidade Federativa do Brasil, porém não é somente a sua extensão territorial que é limitada. As chances e oportunidades, não só para os escritores, como também para outras vertentes artísticas e culturais, são fracas quando não, inexistentes. Querendo ou não, precisamos recorrer a algum recurso midiático para a divulgação do nosso trabalho, e isso, muitas vezes, faz com que tenhamos que bater asas e voar para o local mais propício ao sucesso do nosso empreendimento. Não podemos nos limitar nossos sonhos. Penso em crescer do centro para as bordas, pois é muito mais difícil ter um trabalho reconhecido tentando o movimento contrário, assim penso eu. 
 
12. JHS Publicações - Para finalizar, o que você diz do livro Cinquenta Tons de Cinza, que começou pela auto publicação e conquistou o público chegando até a produzir filmes. Você considera uma obra de qualidade literária ou apenas um livro de uma geração em busca de entretenimento?
 
JB – Recorrendo ao apogeu da minha sinceridade, não tive acesso à obra literária. Tomei conhecimento do trabalho apenas por meio dos ‘críticos’ e amantes da cinematografia. Não sabia que a obra tinha ganhado espaço por meio da auto publicação. Para mim, independente ser uma obra feita com a única finalidade de entreter, vale salientar que alguém criou e dedicou tempo e esforço para trazê-la ao conhecimento do público. Independente de gostar ou não, aprecio toda e qualquer obra. Creio que a qualidade daquilo que produzimos vem do respeito que queremos obter do leitor. Apenas ele avaliará a qualidade. Devemos respeitá-lo. Pode ser uma obra supérflua, ou não. Seu efeito pode ser passageiro, ou não. Cada história traz uma dose de mistério. É possível que pela falta de sensibilidade não consigamos fazer o leitor desvendar esse mistério e leia apenas ‘palavras’.

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