terça-feira, 8 de novembro de 2011

Coração Partido

Minha Querida,

Vivo um tempo de esperança, pois assim é como posso crer. A juventude perdida entre anos de timidez e romantismo, poucos sorrisos e muita solidão. Uma paixão, um tremendo encanto me fez passar noites a pensar sobre os versos e reversos dessa minha quimera. Encontrei você, tão doce e inatingível e por isso senti em minha alma que tudo aquilo que me satisfazia era um “amor” impossível. Longos anos de contemplação, aventuras e desenganos é a descrição do meu estado. A inquietante visão do ser amado e uma vontade insaciável de conversar, contar meus segredos, compartilhar...! Abraços e beijos inexistentes. Minha alma pulsa um estado barroco, entre o corpo e o espírito, mas se apega na vontade clássica desse grande amor. Vivo as canções da minha vida. Meu Mundo e Nada Mais era toda a minha síntese biográfica. Eu cantei todas as músicas como um ator embriagado pela sua dramaturgia. Eu me declarei um homem apaixonado, tudo o que me encantava era criado dentro de mim. Um dia desses, minha esperança renasceu e assim tudo começou a ser concreto. Aquela paixão de adolescente que resistiu ao tempo ardeu mais que fogo em brasa. Declarei-me e ouvi declarações de amor sem fim. Senti-me feliz como nunca na vida. O olhar, o sorriso, os lábios em encontro aos meus, o abraço apertado foram as lembranças que me restaram, além do meu amor ardente. Contei todos os meus segredos, venci meus medos e fraquezas em nome desse amor, dessa minha razão de ser. Recitei a poesia da beleza, do respeito e da compreensão! E hoje, todas as palavras que eu nunca esqueci ficaram só no meu pensamento. Aquele encanto da natureza “foi como uma flor que desabrochou e logo morreu”. “Se nós tivéssemos ouvido a voz desse desconhecido: o amor!” Versos que soam cada vez mais forte. Então, vi meu mundo desabar quando tudo o que foi dito, vivido e sentido não marcou, não fez sentido, não foi para o registro dos dias mais felizes da sua vida. A solidão que antes era minha parceira, agora me vê debruçado em memórias de um amor sem fim que o destino teima em desfazer. A você, deixo um canto de grande emoção. Digo, e não mais que isso, tudo o que não tive a chance de dizer. Não queria que esse poema fosse terminar assim sem rima. Queria para sempre poder escrevê-lo, declama-lo e contemplá-lo. Porém, “tanto amor, não pôde evitar” que você deixasse a solidão novamente ser minha companheira junto das lembranças. Fica no ar um sabor de ilusão, de que fora mero ensaio de uma peça que você não lembra mais do enredo. Um teatro desbotado pela amnésia dos nossos desejos subconscientes. Continuo sentindo o mesmo que sentia. Talvez, a lei do amanhã me mostre uma nova felicidade. Mas, o futuro, do qual é a vivência dessa desunião, não me deixará infeliz. Não! Pois, a saudade preencherá o vazio. E assim, quando mais tarde a vida, em encontros e reencontros, reabrir novos caminhos, eu possa me dizer de tudo o que senti; que ainda sinto, pois o coração que nunca te esquece é o mesmo desde o início até o fim da minha existência!
Hora, F. J. 31.10.2011